Fazer o orçamento de uma obra pode ser uma tarefa mais complexa do que se imagina. Afinal, todos os cálculos devem estar coerentes com os gastos futuros, evitando que se vá além do planejado preço estipulado.
Grande parte das obras na indústria da construção ultrapassa o valor estipulado. E isso se deve principalmente ao aumento de preços que não foi calculado e ao custo com retrabalhos não previstos. Para se ter uma ideia, de acordo com o custo nacional da construção, calculado pelo IBGE, somente no primeiro semestre de 2016 os aumentos no custos de materiais representam 2,41% e da mão de obra 7,10%..
Por isso, especialistas em gestão de custos na construção não hesitam em afirmar que o que faz mesmo diferença no controle financeiro de um projeto construtivo é o grau de eficácia do gerenciamento dos materiais adquiridos e dos serviços executados. Como você controla o uso das matérias-primas em seu canteiro de obras? E dos serviços executados?
Uma pesquisa da Escola Politécnica da USP comprova o entendimento citado acima (sobre a criticidade da gestão de estoques), revelando que as perdas de materiais em uma obra chegam a 8% do total adquirido e os desperdícios financeiros (incluindo os ligados a retrabalho) alcançam, em média, 30% do orçamento total de cada projeto na área de engenharia civil. Isso explica por que esse setor busca cada vez mais por ferramentas que auxiliem o controle sobre os gastos no planejamento da obra, como a curva ABC, e como ela vem se tornando uma ferramenta indispensável para os gestores.
Mas você sabe do que trata essa estratégia? Se não está seguro, vamos mostrar o que a curva ABC pode agregar nos resultados financeiros de sua construtora!
O que é curva ABC?
Também chamada de “curva de Pareto”, esta ferramenta se baseia na ideia de que 80% dos problemas são geralmente causados por 20% dos fatores. Muito usada no gerenciamento de insumos com intuito de proporcionar um controle mais apurado no investimento com materiais e perceber o nível de importância de cada item.
Dessa forma, a curva ABC no orçamento de obras é fundamental, pois permite aos engenheiros gestores identificarem quais os itens que justificam mais atenção e tratamento especial quanto ao seu manuseio, emprego e acondicionamento.
É por meio da listagem de todos os itens, da descoberta de sua importância relativa (“percentualizada”) e da sua divisão entre itens “A”, “B” ou “C”, que conseguiremos formular uma hierarquia de insumos (e, por consequência, uma atribuição de responsabilidades mais eficaz para cada classe de itens). Para facilitar este processo, pode-se criar um pequeno gráfico.
No exemplo, 20% dos itens listados representam, sozinhos, 80% da margem de lucro da obra. Ou seja, é preciso ter uma atenção redobrada para estes itens. A escala então reduz logo em seguida, com 40% dos materiais listados representando 15% da margem de lucro da obra. No planejamento é importante mensurar a atenção a esses itens pois também representam um valor considerável.
Por fim, os 40% de itens restantes representam apenas 5% da lucratividade. O valor mais baixo se comparado com o restante dos itens no gráfico permitem uma maleabilidade maior no gerenciamento.
Essa escala garante um controle muito eficiente, impedindo, por exemplo, que você não entregará entregue o que lhe for mais crítico ao seu projeto para a supervisão do ajudante de pedreiro, ou encarregue Nem incumbirá o engenheiro-chefe de monitorar o desperdício de pregos, de valor total insignificante. A curva ABC materializa a razoabilidade na gestão de insumos, em todos os sentidos (“gaste suas energias com o que realmente importa”).
Qual a ideia por trás da curva ABC?
A classificação ABC possui inúmeras utilidades dentro das construtoras, ela pode apoiar inclusive o controle dos custos de uma obra, devido a sua capacidade de determinar quais os insumos e serviços possuem maior peso sobre o custo total da construção. Ou seja,essa ferramenta leva em consideração a importância relativa dos itens e é aí que está a diferença.
Supondo que você tenha em seu estoque azulejos importados, em número não muito grande, mas cujo valor unitário seja alto, de forma que o valor agregado total nesta categoria de material seja elevado. Agora imagine que você tenha também uma imensa quantidade de sacos de areia, mas que em função de parcerias, tenha custo baixo por saco (ou seja, o valor total desses itens é ínfimo).
Pense então: se houver necessidade de priorizar algo, você centralizaria seus olhos no manuseio dos azulejos ou nos sacos de areia? Primeira opção, certo? Pois bem, você acabou de estabelecer uma racional hierarquia de insumos, algo essencial para que o controle dos materiais seja feito de forma funcional, impactando verdadeiramente o orçamento da obra. E, de certa forma, você usou inconscientemente, os princípios da curva ABC.
Como utilizar a curva ABC no orçamento de obras
Vamos simular uma lista de insumos de apenas 5 itens, para fins de entendimento:
- Azulejo cerâmico (importado) – R$ 400,00/m2 – Quantidade: 20 m² – Total: R$ 8.000,00
- Pia de cozinha granito – R$ 1.000 – Quantidade: 2 – Total: R$ 2.000,00
- Cimento comum cinza (saco de 5 kg) – R$ 8,00/saco– Quantidade: 100 – Total: 800,00
- Bloco cerâmico vedação 9 furos – R$ 2,00/unid. – Quantidade: 200 – Total: 400,00
- Areia fina (saco de 20 Kg) – R$ 3,00/saco – Quantidade: 100 – Total: R$ 300,00
Custo total: R$ 11.500,00
De primeira, já percebemos que os 2 primeiros itens são os mais críticos para nossa construtora hipotética. Entretanto, se estivermos diante de uma lista real de materiais, essa identificação não será tão imediata. Se utilizarmos esses dados para fazermos a frequência acumulada, teremos:
- Azulejo cerâmico – Freq. Acumul. – R$ 8.000,00 = 70%
- Pia de cozinha granito – Freq. Acumul. – R$ 10.000,00 (8 mil+2 mil) = 87%
- Cimento comum – Freq. Acumul. – R$ 10.800,00 (8 mil+2 mil +800) = 97%
- Bloco Cerâmico – Freq. Acumul. – R$ 11.200,00 (8 mil+2 mil + 800 + 400) = 98%
- Areia fina (saco 20 Kg) – Freq. Acumul. – R$ 11.500,00 (8 mil+2 mil+800+400+300) = 100%
Agora, com a frequência acumulada devidamente elaborada, fica mais fácil visualizar que, de fato, uma pequena quantidade de itens (apenas os 2 primeiros) respondem por 87% de todo o capital empregado na compra de insumos. Estes serão os itens da “classe A”, ou seja, aqueles que deverão receber tratamento especial em sua compra, recebimento, armazenamento e manuseio.
Benefícios do uso da curva ABC no canteiro de obras
- Hierarquia de insumos: identifica os insumos que exigem controle mais rígido (basta ler o topo da tabela criada e você saberá quais os materiais economicamente mais importantes);
- Prioridade na negociação: identifica os materiais cuja negociação com fornecedores deverá envolver maior esforço para obtenção de descontos;
- Atribuição de responsabilidades: facilita a distribuição de responsabilidades de controle, de forma mais racional e eficaz;
- Avaliação de impactos: oferece aos gestores uma visão mais clara de onde está o impacto nas aquisições feitas pelo setor de Compras e onde estão os desperdícios mais críticos (facilitação da avaliação de impacto);
- Reduz os custos com materiais, barateando os projetos de construção.
Compreendeu a importância da curva ABC no orçamento de obras? Imagine que se estivermos diante de uma lista com 500 ou 600 itens, ter à mão uma ferramenta como essa pode facilitar muito as decisões, certo?
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